In memoriam a Hilda e Wellington Drumnond
Toda vez que eu vejo uma uva,
lembro:
Quando chegava
na casa dos Drumnond, me sentia todo bobo. Me achava pertencente a família do
grande Carlos Drumnond de Andrade. Os seus poemas sempre me encantaram. Essa
percepção poética só aconteceu bem depois das uvas que ficavam penduradas na
garagem. Não tinha carro. Engraçado, nunca vi carro ali. Uma garagem sem carro,
mas cheio de uvas. Poesia-objeto. Encanto. Carlos você está aí escondido na
videira?
Eu ainda não tinha altura suficiente para
pegá-las. Do lado, perto da outra garagem que sempre estava fechada, um menino
malvado que imitava Popeye gostava de me bater e comer as folhas da videira
como se fosse espinafre. Deveria ter sido Brutus. Coisa de criança? Nunca
entendi.
Entra meu filho,
conheça as memórias do meu pai, o Sr. Lamenhas Cavalcante. Posso sentar nessa
cadeira Tia Hilda? A entrevista que nunca aconteceu, anunciou o inverno. As
palavras saiam de sua boca feito rosas do povo.
Os anos de sua
vida contavam as suas histórias. É bom tomar café na cozinha em dias
enluarados. Bolos de aniversário com cajuzinho e brigadeiro. O suco é de uva.
As folhas de espinafres podem se transformar em comidinha de boneca. Cuidado,
isso é coisa de menina. Vai virar mulherzinha.
Peter Pan sempre
aparecia nos momentos que eu precisava. Em cima de um caminhão o meu Bisa veio
tocando os “boi” lá dos sertão do Ceará. Tanta coisa pra contar. Salve a
cultura popular. Um bumbo que toca na multidão anuncia o moço de olho azul.
Eita tio, você é da Europa? Eu vim das Minas, torcendo pro frio chegar. Ê tá
cidadezinha quente.
Vem cá! Escuta
bem! Conheço o teu paizinho desde pequenininho. Sempre apaixonado. Gostava de
escrever poesia para sua mãe. Pegava o bonde bem aqui na esquina pra descer na
Estação Leopoldina. Nessa época tinha trem até para o Rio de Janeiro. O tempo
costuma me encontrar nas esquinas da vida. No jardim tinha tantas outras
flores. De vez em quando eu sentia os seus odores. A minha professora de
história que eu nem lembro mais me dizia que Leopoldina era uma princesa. Estou
com uma vontade de tomar um vinho.
Resende,
11 de julho de 2018.
Rudi
Rot