terça-feira, 28 de setembro de 2010

O MURO PINK

A metáfora cinematográfica “the wall” do Allan Parker, nos faz pensar em temas variados. Motiva-nos a sair do sério, ver o mundo de cabeça para baixo, ver de outra forma. Muitas tomadas utilizadas nos colocam dentro de um poderoso sistema de controle. O que é real e o que é ilusão? Tudo é possível. A criatividade e a destrutividade humana criam uma sintonia. Ser educado para se destruir. Eis o grande objetivo da sociedade de consumo. Sem emoções. É assim que a coisa funciona. Aprendemos a ser criativos, para sermos destrutivos. Educados para sermos deseducados. Onde está a solução?
O filme nos causa náuseas. Provoca mais questões do que responde? Pare para pensar no que você está reproduzindo. Há um muro invisível em sua volta. Rompemos o muro de Berlim, mas e o seu muro, você consegue? É disso que o filme fala. A náusea é necessária. E para dar voz a tudo isso, a trilha sonora do Pink Floyd corrobora com as psicodelicações de Allan Parker.
Um grito de dor é o anúncio da insatisfação. Os alunos em Another brick in the wall ilustram esta insatisfação. Ninguém agüenta mais este sistema retrogrado de educação, controlador, castrador e punitivo. A cena em especial faz tudo que a gente tem vontade e não tem coragem de fazer. Triste trópicos já dizia Claude Lévi-Strauss. A educação é uma muro . Tudo é muito delirante no “The wall”. Um delírio provocado pelo alto controle social.

Dentro da perspectiva técnica “The Wall” ousa em seus planos, seus movimentos de câmera e em seus ângulos. Podemos observar que os planos mais utilizados são os planos descritivos, os planos dramáticos e planos psicológicos. Analisando em breves detalhes vemos que referente aos planos descritivos aparecem planos de conjunto e plano geral que serve para localizar o expectador no cenário dando-nos compreensão do ambiente da história, aonde tudo isso está acontecendo, o tempo sócio-histórico. A presença destes planos é importante para que o filme ganhe dimensão territorial; para os dramáticos, observamos a presença de plano médio, plano médio-médio e plano americano. Sem dúvida alguma, os planos dramáticos têm a função de inserir os personagens na história e dá ênfase ao protagonista através de uma distinção de objetivos cênicos. No “The Wall” parte das cenas que tem este plano é parte do psicodelismo mentais do protagonista que acaba estabelecendo um diálogo com a realidade velada das nossas instituições sociais; Para os planos psicológicos, fazem à diferença e nos coloca de fato dentro do personagem condutor da trama alucinante e delirante “The Wall”. Tem aí o plano próximo e o primeiro plano, a presença do primeiríssimo plano é observada em diversos momentos: a cena que a criança está no meio de dois adultos que tenta cuidar dele. Nós conseguimos perceber neste enquadramento as emoções do personagem criança. Estes planos específicos funcionam como uma costura entre os planos descritivos e os planos dramáticos. O controle e a repressão ditam conseqüências que só podem ser visualizadas através desses planos.
O futuro, o passado e o presente se encontram e os planos vão se sobrepondo para nos dar esta surrealidade ilúcida. Para compreender o filme tem que estar despochado de juízo de valores, de conceitos e de paradigmas. Senão corremos o risco de detestarmos o triller. Desnudos de moralidade saberemos ver o que está nos “entreplanos” do filme em discussão.
Contudo os planos sob a batuta de Allan Parker recebem as fortes influências dos movimentos de câmera e dos ângulos das câmeras. Não podemos deixar de evidenciar os efeitos de altura que as câmeras proporcionam em parceria com cenários mais baixos. Sem um posicionamento focado naquilo que eu quero atingir, sai pela culatra, fica feio, sem provocação. De todas os planos observados alguns me chamaram atenção justamente pela utilização do travelling que nos dá a sensação de movimento contínuo, enquanto outros a atenção esteve na utilização de ângulos diferenciados como o contre-plongée.
Para concluir, descreverei algumas cenas com o intuito de exemplificar o que foi dito acima:
O travelling colocado no início nos dá a idéia de que somos nós, expectadores, que estamos entrando no quarto do protagonista, entrando no filme para testemunhar a vida do protagonista. Tira-nos da imparcialidade. As expressões do soldado são evidenciadas. Somos ele? Estamos dentro dele? As duas coisas acontecem simultaneamente. Os primeiríssimos planos dão este tom de intimidade física e psicológica; Destaque para as animações que são responsáveis pela parte surreal e delirante do filme. São as viagens que a mente se permite a fazer; A revolta dos alunos contra o sistema de opressão é outra passagem bastante significativa, percebemos aí a presença de várias câmeras executando movimentos e ângulos diversos; A aflição do protagonista também nos aflige. O que podemos fazer para ajudá-lo. Sentimo-nos impotentes. Neste momento a destrutividade humana era o que ele podia fazer de melhor para não se matar de vez. Um interlúdio necessário que antecede a sua overdose; O final nos tira qualquer esperança conceitual. O muro se eterniza. Precisamos pintá-lo de outra cor ou reconstruí-lo de uma outra forma. Afinal ele também serve para nos proteger.

Rudolf Rotchild

Album de fotos Viagem para o Rio