Eu me atraso antes
mesmo de chegar. Sou aquele que leva feijão pra tua mesa. Tomo remédio pra não
dormir. Sou casado com Maria Emília e não tenho hora pra chegar em casa. Me
chamam de golpista ou revoltado. Não entendo nada, vou pela estrada construindo
minhas cidades minerianas. Sou aquele
que sai por aí fazendo caminhos.
Freio. Quase atropelo o cachorro
que atravessa com fome. Um pato grande atravessa também. Paro num posto pra
tomar cafezinho com pão de queijo.
____ Abastece aí pra mim.
___ Ô patrão ! Não tem diesel na
praça.
Fico ali num tempo que não é meu.
De quem?
Enquanto isso lá em Brasília os
deputados dormem em seus casacos e babam. Ninguém resolve nada. Os dias
passam...meu caminhão foi roubado.
Não tenho pra onde ir. O dinheiro
que me sobrou no bolso serve pra pagar um hotel e uma janta. A estrada tá cheia
daqueles que nos querem mal.
Os ratos não são tão ruins assim,
me fazem companhia na beira da pista. Uma poça de lama reflete a minha alma.
Obedeço. Caminho na beira da vida tenho que tomar cuidado, posso cair nos
lábios daqueles que me julgam um zé.
Do outro lado segue um bando de
homens que manifesta a justiça que nunca acontece. Heróis da estrada como eu.
Sinto sede. Sinto falta de esperança. Sinto o Brasil nas minhas costas como se
fosse uma carga muito pesada.
Vamos fazer a revolta da roda.
Vamos inventar uma nova roda que não seja redonda, que não seja cíclica, que
não rode. Vamos furar todos os pneus. Queimá-los em estradas públicas. Transformá-los
em algo que dure.
És possível?
Rudi Rot.