Talvez num bolo de cenoura,
numa cozinha carnívora de vísceras dilaceradas pela raiva.
A existência não me permite romper a ética.
Vou em frente.
Compro um quilo de carne bem vermelha, muito sangue.
Tábua de madeira que é pra abafar o som.
É...
por favor, dá pra chegar pro lado?
Pás! (Onomatopeia de faca cortando a carne na madeira.)
Aceita uma língua?
Crunch! Crunch! Crunch!
Dizem que os nossos antepassados na ausência de animais, comiam-se.
As mulheres faziam sopa.
Os homens...um churrasquinho de esquina.
Tentei mudar o mundo mas ele não quis.
Preferiu ficar oco.
Sem sal, molho e pimenta.
Sem tempero algum.
Só com o gosto de fel na boca.
Então...vê se cala a tua hipocrática vagina.
Moralista. A placa da esquina dizia:
"Procura-se marido com muito dinheiro no bolso,
saúde para dar e vender."
Na cozinha da raiva,
o bolo de cenoura é a sobremesa dos arrogantes.
O veneno se dissolve em cobertura de chocolate.
Prefiro criar a minha própria sorte.
Contar comigo.
E Deus finalmente habita a minha cozinha que é um templo.
A mesa...farta de humildade.
Por favor, poderia passar a faca
para eu arrancar a sua unha?
Brincadeirinha, agora eu só como vegetais.