segunda-feira, 28 de maio de 2018

REVOLTA DE UM CAMINHONEIRO


Eu me atraso antes mesmo de chegar. Sou aquele que leva feijão pra tua mesa. Tomo remédio pra não dormir. Sou casado com Maria Emília e não tenho hora pra chegar em casa. Me chamam de golpista ou revoltado. Não entendo nada, vou pela estrada construindo minhas cidades minerianas.  Sou aquele que sai por aí fazendo caminhos.
Freio. Quase atropelo o cachorro que atravessa com fome. Um pato grande atravessa também. Paro num posto pra tomar cafezinho com pão de queijo.
____ Abastece aí pra mim.
___ Ô patrão ! Não tem diesel na praça.
Fico ali num tempo que não é meu. De quem?
Enquanto isso lá em Brasília os deputados dormem em seus casacos e babam. Ninguém resolve nada. Os dias passam...meu caminhão foi roubado.
Não tenho pra onde ir. O dinheiro que me sobrou no bolso serve pra pagar um hotel e uma janta. A estrada tá cheia daqueles que nos querem mal.
Os ratos não são tão ruins assim, me fazem companhia na beira da pista. Uma poça de lama reflete a minha alma. Obedeço. Caminho na beira da vida tenho que tomar cuidado, posso cair nos lábios daqueles que me julgam um zé.
Do outro lado segue um bando de homens que manifesta a justiça que nunca acontece. Heróis da estrada como eu. Sinto sede. Sinto falta de esperança. Sinto o Brasil nas minhas costas como se fosse uma carga muito pesada.
Vamos fazer a revolta da roda. Vamos inventar uma nova roda que não seja redonda, que não seja cíclica, que não rode. Vamos furar todos os pneus. Queimá-los em estradas públicas. Transformá-los em algo que dure.
És possível?

Rudi Rot.

Album de fotos Viagem para o Rio