A Maloteca é uma editora artesanal, independente, criativa e que acredita na sustentabilidade como possibilidade de suporte. O seu destino é caminhar feito caxeiro viajante, levar os escritos-objetos (e tudo que pintar na cabeça) do multiartista Rudolf Rotchild e dos seus amigos aos campos literários do Brasil e da Língua Portuguesa.
sexta-feira, 16 de novembro de 2018
sexta-feira, 9 de novembro de 2018
terça-feira, 28 de agosto de 2018
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
quarta-feira, 11 de julho de 2018
NO JARDIM DA LEOPOLDINA
In memoriam a Hilda e Wellington Drumnond
Toda vez que eu vejo uma uva,
lembro:
Quando chegava
na casa dos Drumnond, me sentia todo bobo. Me achava pertencente a família do
grande Carlos Drumnond de Andrade. Os seus poemas sempre me encantaram. Essa
percepção poética só aconteceu bem depois das uvas que ficavam penduradas na
garagem. Não tinha carro. Engraçado, nunca vi carro ali. Uma garagem sem carro,
mas cheio de uvas. Poesia-objeto. Encanto. Carlos você está aí escondido na
videira?
Eu ainda não tinha altura suficiente para
pegá-las. Do lado, perto da outra garagem que sempre estava fechada, um menino
malvado que imitava Popeye gostava de me bater e comer as folhas da videira
como se fosse espinafre. Deveria ter sido Brutus. Coisa de criança? Nunca
entendi.
Entra meu filho,
conheça as memórias do meu pai, o Sr. Lamenhas Cavalcante. Posso sentar nessa
cadeira Tia Hilda? A entrevista que nunca aconteceu, anunciou o inverno. As
palavras saiam de sua boca feito rosas do povo.
Os anos de sua
vida contavam as suas histórias. É bom tomar café na cozinha em dias
enluarados. Bolos de aniversário com cajuzinho e brigadeiro. O suco é de uva.
As folhas de espinafres podem se transformar em comidinha de boneca. Cuidado,
isso é coisa de menina. Vai virar mulherzinha.
Peter Pan sempre
aparecia nos momentos que eu precisava. Em cima de um caminhão o meu Bisa veio
tocando os “boi” lá dos sertão do Ceará. Tanta coisa pra contar. Salve a
cultura popular. Um bumbo que toca na multidão anuncia o moço de olho azul.
Eita tio, você é da Europa? Eu vim das Minas, torcendo pro frio chegar. Ê tá
cidadezinha quente.
Vem cá! Escuta
bem! Conheço o teu paizinho desde pequenininho. Sempre apaixonado. Gostava de
escrever poesia para sua mãe. Pegava o bonde bem aqui na esquina pra descer na
Estação Leopoldina. Nessa época tinha trem até para o Rio de Janeiro. O tempo
costuma me encontrar nas esquinas da vida. No jardim tinha tantas outras
flores. De vez em quando eu sentia os seus odores. A minha professora de
história que eu nem lembro mais me dizia que Leopoldina era uma princesa. Estou
com uma vontade de tomar um vinho.
Resende,
11 de julho de 2018.
Rudi
Rot
terça-feira, 19 de junho de 2018
HERÓI E CRIMINOSO.
Não tenho nada
a TEMER. Veja você, não quero nem vê a cara daquele rapaz lá trás que jaz sob
o meu voto. Sufrágio Universal menino, é para gente grande. Ande com o pé. Quer
um calçado emprestado? Descalço faz bem para a saúde. Vou pedir aquele
nordestino que está preso em Curitiba pra comprar um tênis ”procê”.
O meu crime
foi dar para os pobres a sua dignidade. Vê pobre na Universidade dá medo. Pobre
preto que não sabe o seu lugar, quer incomodar as classes sociais que
destruíram este país. Quando puderem cortarão as cabeças daqueles professores
que insistem em provocar o pensamento crítico da juventude. Morre tudo. Cambada
de canalhas. Pouparão as mulheres para serem consumidas em quartos escuros e
fétidos. As crianças serão costureiras da indústria de uniformes militares.
Esse povo aí sonha com a intervenção militar. Fala sério. Nasceram abortados.
Sofias e sofias desgovernadas pelos generais.
Ai meu Deus onde vamos pirar. Espero que seja em uma praça cheio de pombos.
Mensageiros da nova terra. Carne de pasteis chineses. Se alguém ler este
desabafo correrá o risco de ser contaminado. Usem as máscaras que foram
distribuídas nas ruas no dia do Golpe. As mesmas máscaras que foram usadas
pelos moradores de Chernobyl. Onde está o valor disso tudo? Dá-me paciência
para estas perguntas idiotas. Lembrem que na última semana cansei de explicar
no jardim o nosso propósito de vida. Temos um ou fingimos ter um? Durante
vários anos muitos criminosos foram reconhecidos como heróis e muitos heróis
foram reconhecidos como criminosos. A história é relativa meu caro.
Depois
de um tempo de discurso em praça pública, uma leitura sobre o perdão é
provocada entre os transeuntes. O jovem que já estava distante, ouviu, voltou e
falou em voz sussurrante: Seu herói é um criminoso.
Enquanto isso lá na Vicentina, os homens insistem em banalizar o mal. Os seus féis consumidores mantém a firma em funcionamento. Lamento! Um nível de desumanidade que nos impede de acreditar em alguma coisa que possa mudar. E pensar que tudo começou nas verbas públicas desviadas para a campanha daqueles que insistem em manter a barbárie.
Enquanto isso lá na Vicentina, os homens insistem em banalizar o mal. Os seus féis consumidores mantém a firma em funcionamento. Lamento! Um nível de desumanidade que nos impede de acreditar em alguma coisa que possa mudar. E pensar que tudo começou nas verbas públicas desviadas para a campanha daqueles que insistem em manter a barbárie.
Se eleito for
o herói-criminoso cumprirá a sua liberdade em aulas de sociologia e filosofia.
Faz pensar meu senhor. Fazer pensar em
ser alguma coisa diferente daquilo que a sociedade quer que eu seja. A sua
arrogância meu jovem me causa náuseas. Que bom que ainda tenho mãos para
escrever. Versos em prosa. Deus tenha piedade de todos nós.
Rudi Rot, em 19 de
junho de 2018.
RAIOS DE LOUCURA
Que os deuses
do olimpo não ouçam a minha insanidade. Os raios vêm de Zeus: O combustível da
ganância e do egoísmo humano. Tive um plano: chegar de madrugada no posto de
abastecimento, rezar pra São Bento que me lembra o vento e abastecer até a
bomba explodir. O excremento dos partidos servem pras moscas se reproduzirem e
sair por aí feito abelhas. Polemiza a existência. Enquanto não fizermos
nada, nada vai acontecer. É fácil esperar na poltrona o resultado dos mártires.
Sou capaz de dar o dizimo pra luta? Seres que não vêmos merecem maior respeito.
Existir seria uma opção?
___ Mas pense. É só delírio. Seja
você mesmo rapá !
Ontem mesmo um
carro buzinava ao extremo. Queria encher o tanque a qualquer custo. Estava
desesperado. Precisava viajar em feriado prolongado. Pouco importa se tem gente
que passa fome, por não ter dinheiro para comprar um gás. Põe lenha pra
esquentar o almoço. Eu seria rei em terra sem fogo. Tenho um isqueiro lá em
casa que só funciona quando falta luz. Milagroso. Severa ordem. Faça um terço
bem forte. Desligo a TV.
E quando perco
o sono de madrugada, ligo a TV. A manipulação estão nos programas educativos e
tudo mais. Adoro o Adorno. Ele vive dizendo que a cultura já está vendida para
as grandes emissoras de televisão. Custa muito barato, mas faz mal para os
intestinos grosso e delgado.
___Espere que eu ainda vou casar
seu moço, de terno, gravata e igreja. Sou livre para adorar outros raios. Segundo
Sartre, sou livre menor.
A TV insiste
em ficar ligada a noite toda. É copa do mundo. Futebol é o ópio do povo. Eu sou
russo desde pequenininho. Meu nome é russo (dou uma risada escandalosa). Está
tudo muito caro. Depois da greve tudo ficou muito caro. Tudo. Tudo. Tudo.
A copa do
mundo de futebol tem a ousadia de nos embriagar. Ópio do povo. Não importa o
resultado do jogo, queremos na verdade um motivo para sair da cruel realidade
que nos é imposta. A minha torcida vai para os países latinoamericanos com
exceção do Brasil. Então se você não gosta do país, mete o pé. Ame-o ou
deixe-o. Pensarei no caso. Quem sabe lá fora a minha loucura comece a fazer
sentido.
Rudi Rot em 19 de junho
de 2018.
quarta-feira, 6 de junho de 2018
quinta-feira, 31 de maio de 2018
segunda-feira, 28 de maio de 2018
REVOLTA DE UM CAMINHONEIRO
Eu me atraso antes
mesmo de chegar. Sou aquele que leva feijão pra tua mesa. Tomo remédio pra não
dormir. Sou casado com Maria Emília e não tenho hora pra chegar em casa. Me
chamam de golpista ou revoltado. Não entendo nada, vou pela estrada construindo
minhas cidades minerianas. Sou aquele
que sai por aí fazendo caminhos.
Freio. Quase atropelo o cachorro
que atravessa com fome. Um pato grande atravessa também. Paro num posto pra
tomar cafezinho com pão de queijo.
____ Abastece aí pra mim.
___ Ô patrão ! Não tem diesel na
praça.
Fico ali num tempo que não é meu.
De quem?
Enquanto isso lá em Brasília os
deputados dormem em seus casacos e babam. Ninguém resolve nada. Os dias
passam...meu caminhão foi roubado.
Não tenho pra onde ir. O dinheiro
que me sobrou no bolso serve pra pagar um hotel e uma janta. A estrada tá cheia
daqueles que nos querem mal.
Os ratos não são tão ruins assim,
me fazem companhia na beira da pista. Uma poça de lama reflete a minha alma.
Obedeço. Caminho na beira da vida tenho que tomar cuidado, posso cair nos
lábios daqueles que me julgam um zé.
Do outro lado segue um bando de
homens que manifesta a justiça que nunca acontece. Heróis da estrada como eu.
Sinto sede. Sinto falta de esperança. Sinto o Brasil nas minhas costas como se
fosse uma carga muito pesada.
Vamos fazer a revolta da roda.
Vamos inventar uma nova roda que não seja redonda, que não seja cíclica, que
não rode. Vamos furar todos os pneus. Queimá-los em estradas públicas. Transformá-los
em algo que dure.
És possível?
Rudi Rot.
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