terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

IMPRENSA: REVOLUÇÃO CULTURAL

Revolução Cultural
Técnica de Gutenberg inunda o continente com uma enxurrada de 20 milhões de livros



Desde que o alemão Johann Gutenberg criou a prensa com tipos móveis e produziu sua primeira Bíblia, há menos de cinqüenta anos, o número de livros impressos vem crescendo dramaticamente. Graças às facilidades dessa técnica já foram lançadas mais de 40.000 edições diferentes, num total calculado em até 20 milhões de exemplares. O livro impresso parece ter vindo para ficar. Em toda a Europa, 247 tipografias estão em funcionamento. Essa rápida multiplicação reforça a superstição popular de que o impresso, sem mão nem pena, tem origem sobrenatural, demoníaca até. Permitindo a disseminação de idéias e conhecimentos com rapidez e facilidade jamais vistas, a invenção de Gutenberg está semeando uma verdadeira revolução cultural. O entusiasmo com o livro impresso é tão grande que as novas edições estão cada vez mais modernas, perdendo a aparência de manuscrito que mantinham originalmente, para não espantar os consumidores do novo produto.

Os lançamentos do ano passado trouxeram como novidade o título da obra na primeira página. Como se sabe, nos manuscritos o título vinha na capa, caprichosamente gravado em ouro ou prata, e se repetia na última página, junto com a identificação do copista. A inovação se tornou necessária porque as capas ainda são feitas a mão, mas, com o aumento das tiragens propiciado pela técnica de Gutenberg – atualmente elas chegam a 275 ou até 300 exemplares –, os copistas não dão conta do trabalho e os livros impressos estavam saindo sem título. Aliás, encontrar copistas hoje em dia é tarefa difícil: eles estão mudando de ramo. A maioria prefere dedicar-se à tipografia, ofício que requer bem mais técnica do que arte.


O que se perde em beleza, com a gradual extinção do trabalho manual, ganha-se em velocidade. Um exemplo eloqüente é a divulgação da carta na qual o navegador genovês Cristóvão Colombo conta a descoberta de terras ao Ocidente. A versão impressa foi lançada em Barcelona no início de abril de 1493, sob patrocínio dos reis da Espanha, interessados na difusão da boa nova. Menos de um mês depois de sua publicação, já estava traduzida para o latim e editada em Roma com o título De Insulis Inventis. Nos anos seguintes, outras seis edições em latim foram lançadas por tipógrafos de Paris, Basiléia e Antuérpia. Os alemães, na sua recente rebeldia contra o latim, preferiram traduzi-la e editá-la em sua própria língua. Assim também o fez um editor de Florença, traduzindo a carta para o dialeto vulgar da Toscana, que chamam de língua italiana. A casa impressora Aldina, de Veneza, continua distribuindo a obra em outras praças do Mediterrâneo, por intermédio dos mercadores que passam pelo porto da cidade. A descoberta da Terra de Santa Cruz não deve demorar a ter o mesmo destino.



Fonte: VEJA, 1° de julho de 1501

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

LIVRO ARTESANAL É COISA DO PASSADO, DO PRESENTE E DO FUTURO

FAZER LIVROS


Graças à tecnologia e, ironicamente, em oposição à produção em massa por ela impulsionada, as pequenas editoras garantem seu lugar ao sol com publicações personalizadas, de baixo custo e com tiragens limitadas. Mas isso não é de hoje. A Hogarth Press, editora fundada por Virginia e Leonard Woolf em 1917 e cuja sede era a sala de jantar do casal em Richmond, subúrbio londrino, publicou autores até então inéditos em língua inglesa {como Freud, Tchekov e Tolstói} ou ainda pouco conhecidos na época, como Katherine Mansfield, T. S. Eliot, E. M. Forster e outros do chamado Círculo de Bloomsbury. Além disso, os próprios Leonard e Virginia {interpretada por Nicole Kidman em As horas}, que usavam a prensa manual da foto abaixo, compunham os tipos, imprimiam, costuravam e encadernavam os livros, enquanto as capas, desenhos, ilustrações e xilogravuras das edições eram criados por Vanessa Bell, pintora e irmã de Virginia.
Quase um século depois, a idéia de fazer os próprios livros continua mais viva e vanguardista do que nunca graças a jovens editores e seu desejo de publicar novos artistas -- escritores, fotógrafos, ilustradores, designers -- que as grandes casas editoriais acabam, por limitações de número de títulos ou imposições estratégicas, ignorando. No Brasil, a Livros do Mal {Porto Alegre}, Fina Flor, Editora do Bispo, Ciência do Acidente {São Paulo}, Edições K {Salvador} e Kafka edições baratas {Curitiba} são exemplos de resistência à "ditadura" do mercado editorial. Algumas dessas editoras ainda estão na ativa e outras, com a placa de "volto logo" na porta, mas o importante é que a iniciativa de publicar permanece.

Lá fora, muitas das editoras independentes contam com a internet como o maior e principal canal não só de divulgação como de vendas. Basta acessar os sites e conhecer os catálogos que, aparentemente tímidos ao primeiro clique, surpreendem pela qualidade das obras. A hassla books e a Ugly Duckling Presse {Estados Unidos}, a Farewell Books {Suécia}, a Nieves Books {também livraria, na Suíça} e a Unagi Books {Alemanha} publicam e vendem desde zines e revistas aos chamados "livros de arte" em tiragem limitada -- em geral, de até 500 exemplares por título, como Bend The Void, do artista gráfico americano Geoff McFetridge -- com o apoio de livrarias com a mesma proposta de incentivar e lançar novos nomes, como a Analogue Books {Edimburgo}, Pro qm {Berlim} e Nieves Books {Zurique, cidade natal do Dadaísmo}, que funcionam, paralelamente, como galerias.Já para quem quiser fazer o próprio livro {literalmente!} sem recorrer a editoras, opções também não faltam. Serviços on-line de self-publishing {"autopublicação"} como os já populares Blurb e Lulu permitem aos usuários carregar arquivos e fazer, passo a passo, álbuns de casamento, livros de fotos etc. em diferentes formatos e com tipos de papel e encadernação à escolha, além de vender os exemplares diretamente por meio desses sites. Outra opção é o print on-demand, que utiliza máquinas que lembram fotocopiadoras para transformar arquivos em livros com capas e formatos pré-programados.
Por sua vez, as empresas especializadas em livros por encomenda, como a Editoras Associadas {cuja sócia eu conheci em um curso na Universidade do Livro}, oferecem aos clientes -- na maioria corporativos -- soluções sob medida desde a escolha do assunto ao acabamento final. No Japão, país com maior número de publicações ao ano, os livros por encomenda são comuns e muitos deles chegam ao topo das listas dos mais vendidos, a exemplo de Tokyo Style, de Kyoichi Tsuzuki. E quem se interessa por encadernações, restaurações ou impressões à mão, originais e à moda antiga, pode recorrer a empresas como a Paper Dragon Books, a Port2port Press e a five and half ou apenas se inspirar nas muitas das suas ótimas idéias.
Por último, um livro fabuloso {via SouleMama} para quem gosta de livros artesanais e, o mais importante, quer aprender a fazê-los: How To Make Books, de Esther K. Smith. Eu já vou encomendar o meu para ler depois que terminar Leonard and Virginia Woolf as Publishers: The Hogarth Press, 1917-41.


Fonte: ogatoquele.blogspot.com

Album de fotos Viagem para o Rio